Saiba como líderes mentores podem reduzir despesas com turnover e doenças ocupacionais

O Brasil é o país com o maior número de turnovers no mundo. Em 2022, o índice subiu 56%, segundo levantamento da Robert Half com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED)¹. De acordo com a ONG Out Now², esta rotatividade nas equipes gera R$ 1,4 bilhão de despesas às empresas, considerando apenas os colaboradores LGBTQIAP+.

O estresse e outros problemas relacionados à saúde mental são as principais causas desta onda de autodemissões – em grande parte – ocasionadas pela gestão ineficaz dos líderes. Uma pesquisa realizada pelo Opinion Box³ aponta que 61% dos brasileiros dizem que o estresse do trabalho já prejudicou sua saúde mental e 72% escolheriam trabalhar em uma empresa com programas focados em cuidados para este fim. 

Já a pesquisa Felicidade Corporativa e Futuro do Trabalho no Brasil⁴, realizada em novembro de 2022, pela Reconnect Happiness at Work em parceria com a Feedz, indicou que metade dos entrevistados realizavam o “quiet quitting” por estarem sobrecarregados, ou seja, executam apenas o mínimo necessário de suas atividades dentro do seu escopo de trabalho. 25% destes profissionais afirmaram que a flexibilidade e a qualidade de vida são fundamentais; 21,6% apontaram o reconhecimento como item mais relevante e 15% preferem empresas que tenham valores iguais aos seus. Além disso, 22% escolhem se desligar da empresa por desacordo com atitudes da liderança e outros 22% por estarem desconectados com a cultura e valores da companhia. 23,9% pretendem buscar um novo trabalho e 13,1% querem continuar no emprego, desde que os líderes mudem de atitude ou sejam substituídos.

Com todos esses números, já fica claro que a falta de gestão adequada impede que a empresa retenha talentos. Além disso, problemas de ordem mental provenientes do trabalho podem gerar despesas com doenças ocupacionais de acordo com a Lei nº 8.213/91⁵, gastos para substituição do funcionário em questão ou, ainda, indenizações, caso a Justiça entenda que a empresa é responsável pela causa ou agravo do transtorno sofrido.

É claro que ser líder não é algo simples. Um líder mentor, menos ainda. Um estudo da Betania Tanure Associados⁶ estima que 60% do tempo dos líderes é usado para e-mails, reuniões, mensagens e outras burocracias. Bom, se a maior parte do tempo deste profissional não é destinado a liderar pessoas, percebemos que “o buraco é bem mais embaixo”.

Além de gerenciar o próprio tempo e tentar implementar soluções que reduzam essas tarefas burocráticas, o líder precisa ter inteligência emocional para gerir suas equipes considerando as necessidades da empresa, de seus funcionários e de si próprio. Imagino que todos já saibam que  aquele modelo de líder autoritário, focado apenas em produtividade, ficou no passado e não é mais aceito hoje em dia pelo mercado. Porém, o verdadeiro líder mentor possui atributos muito superiores do que a expertise em suas funções e a habilidade de lidar com pessoas.

Um verdadeiro líder mentor compartilha seus conhecimentos, pois se preocupa com o desenvolvimento e carreira de seus colaboradores. Este profissional também possui escuta ativa, o que gera mais proximidade com seus liderados, fortalecendo as relações e tornando o ambiente de trabalho mais colaborativo, fluído, saudável e engajado. Isso influencia até na compreensão do propósito da empresa e no senso de pertencimento àquele grupo. A comunicação é objetiva, empática e transparente, evitando distorções e “ruídos”. Os feedbacks são totalmente construtivos e a sua gestão também envolve flexibilidade coletiva e individual para que as atividades sejam realizadas de acordo com os objetivos da companhia, mas sem comprometer o bem-estar dos funcionários, pois compreende que a produtividade e a qualidade profissional estão ligadas diretamente a isso.

Essas características são fundamentais para o sucesso de qualquer empresa. Além disso, estão totalmente relacionadas com a Liderança ESG, (Ambiental, Social e Governança), alta tendência do setor corporativo mundial. A pesquisa “A Comunicação da Governança nas Organizações do Brasil” realizada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje)⁷ revela que os maiores riscos de governança corporativa são: falta de comunicação (59%), falta de clareza na comunicação com os stakeholders (50%) e demora para transmitir informações importantes (37%). Outro estudo, intitulado “Boards: Stepping Up as Stewards of Sustainability”⁸, baseado em dados do The 2022 Sustainability Board Report aponta que somente pouco mais de 25% dos profissionais de diretoria participavam dos comitês de ESG e somente 45% destes comitês estavam realmente comprometidos com estes propósitos. O relatório também indica que as empresas que apresentaram diversidade de competências, ousadia e flexibilidade tendem a conquistar mais espaço no mercado.

A liderança ESG exige, basicamente, as mesmas aptidões que o líder mentor, com o acréscimo da visão estratégica para adotar medidas sustentáveis de forma eficiente para companhia e colaboradores; aplicação da diversidade, oferecendo oportunidade e equidade para diferentes grupos sociais a fim de ter ideias mais criativas e abrangentes; e a inovação, que nada mais é do que estar antenado às novas tecnologias para sugerir novas formas para executar tarefas que proporcionem mais produtividade. Atributos que, facilmente, podem ser incorporados por um líder mentor para ser ainda mais completo. Além de reter talentos e evitar ou minimizar despesas com turnover e doenças ocupacionais, este profissional pode ser a “peça-chave” que vai transformar positivamente toda a estratégia de negócios.

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Artigo escrito por: Paula de Maragno, Sócia Fundadora da Maragno Advogados


Fontes:

  1. https://g1.globo.com/pr/parana/especial-publicitario/pos-pucpr-digital/voce-no-futuro/noticia/2022/12/03/turnover-o-indice-de-rotatividade-que-vem-impactando-as-empresas.ghtml
  2. https://exame.com/bussola/turnover-lgbt-como-reter-a-diversidade-na-empresa/
  3. https://blog.opinionbox.com/saude-mental-no-brasil/
  4. https://www.istoedinheiro.com.br/metade-dos-funcionarios-praticam-o-quiet-quitting-aponta-pesquisa/
  5. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm
  6. https://rhpravoce.com.br/redacao/5-tendencias-que-definirao-quem-sera-um-bom-lider-em-2023/
  7. https://exame.com/esg/comunicacao-e-governanca-gestores-revelam-riscos-e-estrategias/
  8. https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/opiniao/colunistas/delania-santos/voce-e-um-lider-esg-veja-quais-sao-as-competencias-fundamentais-1.3324605